Falta apenas um capítulo para terminar a 1ª Temporada da série “House of David”, que foi criada, codirigida e coescrita pelo cineasta Jon Erwin para a Amazon Prime Video. A princípio, eu a critiquei por causa da sua demasiada licença poética. Assim como em “The Chosen”, a produtora de “Casa de Davi – The Wonder Project”, liderada por Erwin, exagerou na criatividade. Eu penso que não é necessário, em histórias tão ricas como as de Jesus e Davi, esse artifício. É bem possível desenhar um roteiro muito rico apenas com as Escrituras e o conhecimento histórico-cultural da época.
Contudo, para ser justo, preciso dizer que vale a pena assistir à série. Além de bem produzida, ela traz alguns momentos muito especiais que estão registrados no livro de 1 Samuel. Como em “The Chosen”, “Casa de Davi” tem partes que “valem o ingresso”. Os atores que interpretam o profeta Samuel e o edomita Doegue foram escolhas acertadas. Porém, acredito que outros personagens bíblicos poderiam ser melhor representados, como é o caso do próprio Davi.
As maiores semelhanças entre o ator americano Michael Iskander e o incrível Rei que viveu há três mil anos são que ambos eram improváveis e cantam muito bem. Davi, segundo a Bíblia, era ruivo, de boa aparência e tinha olhos gentis. Poderiam, pelo menos, ter pintado o cabelo de Iskander. As extensas especulações na trama sobre sua mãe e sua concepção, seu “namoro” com Mical e a necessidade de, a todo momento, ser salvo e protegido pelo irmão mais velho, Eliabe, eram dispensáveis.
Da mesma forma, Saul, interpretado por Ali Suliman, não descreve com exatidão o texto que apresenta o primeiro Rei de Israel como o mais belo entre os filhos de Israel e que “dos ombros para cima se sobressaía a todo povo”. A ênfase dada à sua doença mental tomou a maior parte da narrativa, quando, de fato, ele se tornou dissimulado e oprimido por um espírito demoníaco. Jonatas também não aparece muito bem, pois falta determinação em seus olhos.
Você pode dizer que estou cheio de preciosismos, e isso pode ser verdade, já que o mais importante é celebrar a iniciativa de quem já está fazendo algo e apoiar o seu trabalho. Soma-se a isso o fato de que, para a maioria do público, esses detalhes não importam tanto. Quanto a mim, o meu zelo pelas Escrituras e a minha mania de querer ser diretor e crítico de cinema me impedem de ignorá-los.
Então, sugiro que você veja por si mesmo a série e, se aceitar a minha indicação, não deixe de passar na Apple Music ou Spotify para ouvir a trilha sonora. Há canções muito belas ali, com destaque para “Lead Me To The Water”, de Michael Iskander. Fica a expectativa de que façam um trabalho ainda melhor na segunda temporada. Não deixe de assistir.