Em meu novo livro Metanoia — 21 Dias de Mentoria — explico que temos que escolher de qual história faremos parte e qual será o nosso papel nessa história.
Assisti ontem ao último filme de King Kong, o macaco gigante que mora em uma ilha perdida no Oceano Pacífico cheia de muitos monstros e perigos. Na trama, uma expedição composta por militares, cientistas, um rastreador e uma fotógrafa saem a fim de encontrar a ilha da caveira que está cercada de escuridão e mistério.
O trabalho dos cientistas era explorar o subsolo “oco” enquanto os soldados deveriam reconhecer a superfície. Para isso, helicópteros despejam suas bombas fazendo acordar criaturas submersas e despertando a ira de King Kong.
Cada sucesso universal do cinema tem forte apelo para o nosso imaginário individual e coletivo. King Kong nasce da necessidade de combater o mal que vemos e aquele que ainda não entendemos bem o que seja. Assim, precisamos dar uma resposta ao que achamos que está errado no mundo e ainda posar de heróis. Todos temos o poder de criar nossas próprias ilhas da caveira e fazer disso “um lugar” em nossas próprias vidas.
Nossos medos projetam essas criaturas que habitam debaixo da superfície e que por vezes acordam para nos assombrar. É incrível o poder de destruição que temos de afetar todos os nossos relacionamentos pelas nossas fobias. Essas estórias que contamos para nós mesmos podem até mesmo “matar” a todos ao nosso redor. Já temos eliminado muitos atores da história de nossas vidas de maneira injusta, para não dizer desonesta.
Ao gerar esse lugar terrível, cheio de monstros e perigos, precisamos de um rei macaco para proteger nosso mundo. Assim, nos tornamos reis na terra deserta e solitária de nossas inseguranças. Assumimos o papel de King Kong e convidamos outros para fazer parte do nosso filme de terror.
Em King Kong — A Ilha da Caveira, o macaco gigante é o deus local e todo o ecossistema da ilha depende de sua sobrevivência. Kong dá sentido ao lugar. Lembre-se: cada um de nós tem que escolher de qual história faremos parte e qual será o nosso papel. A ilha da caveira é a casa de Kong, o grande macaco. Ali, ele não somente mora como nos deixa morar. Tudo gira em torno dele.
Os humanos nativos têm sua permissão para ficar ali, desde quando adorem o rei macaco. Conheço pessoas que criaram para si esse ecossistema de adoecimento. Eles levaram as pessoas para sua própria ilha da caveira onde se tornaram o macaco gigante que governa as pessoas pelos seus medos. Gente especialista na arte da manipulação. E se você ousar destruir suas fantasias provará da fúria das poderosas patas do Rei Kong. Eles são reis em sua terra do medo e intimam outros para fazer parte da sua doença.
No filme, para vencer as criaturas do submundo, todos têm que manter Kong vivo. Os que não foram devorados pelos monstros, devem lutar por ele e os que querem matá-lo devem então “morrer”, por não aceitar fazer parte da sua estória. Afinal de contas, Kong é o rei e se você não quer fazer parte da estória dele deve “morrer”, ou seja, sair do filme. Os manipuladores são as piores pessoas que já encontrei na vida. Eles reclamam de você não aceitar adoecer junto com eles. Eles acusam você do que, na verdade, eles são.
Hitler fez o mundo inteiro seu refém. Manipuladores têm muitos reféns. Ele fez sua ilha da caveira crescer de tal forma que quase engoliu tudo a sua volta como um buraco negro. Todos temos um potencial King Kong dentro de nós. Mas, manipuladores são vítimas de si mesmos. Eles têm sua própria ilha perdida e são reis macacos lutando contra inimigos imaginários. Assim, disparam suas bombas e acordam as bestas que vêm devorá-los. Eles são capazes de fazer seus medos mais profundos se realizarem.
Em uma parte do filme, quando soldados estão buscando vingança de Kong, um deles dispara: “Às vezes um inimigo não existe até que comecemos a procurar por ele”.
Há, não poucos, lutando guerras que não existem. Nas palavras do apóstolo Paulo, estão esmurrando o ar, socando o vento, atirando em fantasmas. No filme, poucos saem vivos da ilha. Na vida real, relacionamentos não sobrevivem na ilha da caveira. No filme, há alguém perdido há décadas que é resgatado. Na vida real, assim como aquele homem, alguns de nós que nos perdemos na ilha do rei Kong há muito tempo, podemos ser salvos. É possível sair da ilha cercada de escuridão no meio do pacífico imaginário de nossas almas.
Senhoras e senhores, escolham seu papel e a história que desejam participar. Ser um Rei Kong na terra dos seus medos ou um coadjuvante desavisado figurando na história dos medos de outra pessoa, ou quem sabe, um protagonista que assume suas responsabilidades, lida com desafios reais e cultiva relacionamentos profundos e agregadores. Escolha sua história. Escolha seu papel.