Após algumas experiências com atendimentos de pessoas advindas de sessões de Constelações Familiares, e de alguns questionamentos de conselheiros e coaches, resolvi fazer algumas ponderações sobre essa ferramenta.
Inicialmente, um pouco de história. O autor, Bert Hellinger, foi seminarista, e aos 17 anos combateu no front nazista, tornando-se padre ao final da guerra. Fez Teologia e Filosofia, adentrando para estudos em Fenomenologia, Psicanálise e Terapia Primal.
Como padre, foi enviado em missão por anos nas tribos Zulus, na África do Sul, e observou como antepassados eram cultuados em seus rituais, passando a pensar de forma mais mística do que propriamente teológica. Inspirou-se também no trabalho da psicanalista Virginia Satir, sobre “esculturas familiares”, numa abordagem chamada Psicodrama, na qual pessoas escolhem os papeis que vão dramatizar de acordo com suas queixas.
Ele então junta sua experiência com os povos africanos e o psicodrama e cria a constelação familiar. Tal ferramenta é aplicada em contexto grupal, no qual os antepassados são trazidos à cena, e são incorporados pelos participantes para conciliação de conflitos pessoais, traumas, e doenças, forte ênfase na hereditariedade, ou “karma”.
Minhas considerações:
1) A inspiração da ferramenta é de origem mística, ainda que atualmente muitas vertentes e adaptações estejam em curso; nas sessões a pessoa pode se conectar às “energias” do outro, e age como se estivesse incorporada.
2) Trata-se de um tema controverso. Parece enfatizar a não responsabilização do indivíduo, uma vez que tudo é herdado.
3) As pessoas têm suas histórias conscientes e não conscientes expostas em um grupo de desconhecidos, e na maioria das vezes não chegam esclarecidas quanto a tal nível de exposição.
4) A técnica preconiza que deve ser feita com pessoas relativamente saudáveis, dada a intensidade das cargas emocionais que podem ser mobilizadas nas sessões. Pergunta-se aqui qual o critério de seleção dos participantes.
5) Os “consteladores” em sua maioria não são psicólogos, recentemente até os coaches adotam essa prática, que tem base mais fenomenológica do que científica. Isso pode pôr em risco a saúde mental das pessoas.
Já presenciei pessoas em crise psicótica disparada em sessão de constelação familiar. Também já ouvi relatos de pessoas que esclareceram questões familiares na constelação e se beneficiaram disso. Isso não me assusta, família é obra de Deus e suas relações, inclusive as transgeracionais, influenciam a todos.
Entendo que como igreja temos a faca e o queijo nas mãos em matéria de cura, já trabalhamos há anos com mapeamento familiar, renúncias e reconciliações por meio de liberação de perdão. Não vejo razão para seguirmos atrás de práticas de origem e manejo duvidosos.
Lembro-me do momento em que Deus chama Abraão para fora da tenda e lhe mostra as estrelas, dizendo: “Em ti serão benditas todas as famílias da terra”. Nessa constelação eu acredito, Dessa constelação, faço parte!
Por Débora Santos