A JORNADA DO GRANDE VILÃO
Assisti “Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes”. Confesso que fui surpreendido. O filme é um debate sobre a natureza humana. Nele surgem algumas perguntas que exigem uma resposta:
Colocados em situações extremas podemos nos tornar em qualquer coisa?
Somos maus ou bons? Existe redenção para nossa natureza? Qual o impacto que nossas escolhas têm em mudar quem somos?
Em Pássaros e Serpentes, a crueldade recebe uma face. Se Joseph Campbell nos mostrou a Jornada do Herói, a escritora Suzanne Collins apresenta o caminho de como se fazem os vilões. O diretor Francis Lawrence tomou o livro homônimo de Collins, no qual se baseia o filme, e revelou a jornada para o grande vilão. Antes de se tornar mau, insensível e diabólico, o Presidente Snow fez também o seu caminho.
Sim, cada ser humano tem uma história e nossas escolhas definem nossos destinos. No histórico de um déspota insensível, existe um crédito de dores não resolvidas e decisões desastrosas.
Como alguém disse outro dia: “Ninguém pode entender uma pessoa até que possa calçar os seus sapatos e descobrir por onde ela andou”.
Na Bíblia, Judas “andou” em reuniões com os inimigos de Jesus a fim de vendê-Lo; Esaú “andou” com mulheres heteias para envergonhar seu pai, vendeu seu direito de primogenitura por um prato de lentilhas, e ficou consumido pela amargura.
Há hoje quem procure um culpado para as decisões erradas que tomou; Balaão amou o prêmio da injustiça; Saul “andou” no caminho da dissimulação e falsidade se desviando dos caminhos da sinceridade e retidão.
De igual forma, no filme, a fim de alcançar seus objetivos Coriolanus Snow encanta, engana, manipula. Ele convenientemente muda de lado e assume a posição dos opressores.
Essa é a história de todo revolucionário de esquerda sincero, que começa com o desejo de ajudar, repartir, apoiar, e se vê no meio de um jogo voraz de controle, engenharia social, manipulação que sempre termina em uma distopia. Raramente alguém sai completamente ileso desta “arena”.
Em busca de poder político, Snow vende a alma, sacrifica o melhor amigo e a mulher por quem se apaixonou. Da mesma forma, nos jogos da vida, há muita gente mudando de lado. Conheci tantos que começaram com Jesus, mudaram de direção e estão terminando a vida do outro lado.
Eles têm seus motivos e suas razões para fazer suas apostasias. O maior poder que temos é o de escolher. Podemos decidir ser bons ou maus. Podemos escolher entre a amargura ou o quebrantamento; a verdade ou a mentira; o sacrifício ou o egoísmo; a vida ou a morte.
- “Vê que proponho, hoje, a vida e o bem, a morte e o mal” (Deuteronômio 30.15).